sábado, 27 de novembro de 2010

que doí mais do que a palavra dor


"Nenhuma palavra dói mais do que a ausência de palavras. Você não é tolo e sabe muito bem disso. Você me impunha um silêncio devastador. Sumia, não dava notícias, fazia de propósito, queria me ver chegar perto da morte, paralisada, sem forças. Eu esperava o telefone tocar, ele não tocava. (...) Esperava o apito do meu computador avisando a chegada de um novo e-mail, ele não apitava. Esperava uma carta, um sinal de fumaça, uma mensagem no celular, esperava que você aparecesse e trouxesse consigo alguma palavra. Esperava e esperava e esperava. E você não vinha. Você me deixava a sós com esse silêncio que dói mais do que um grito arranhado, do que um corte profundo na carne, que dói mais do que a palavra dor".

(A chave da casa, Tatiana Salem Levy, Ed. Record, P. 139)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

sempre e sempre.


"LUÍSA - Teria sido preferível que você partisse para a legião estrangeira depois daquele encontro... ah, teria sido o perfeito: um homem que me dava o maravilhoso e depois ia embora, sem tempo para me magoar, sem tempo de matar o sonho... nunca mais foi assim, nunca mais aquele encontro das primeiras descobertas... eu sabia que ia ser diferente da próxima vez, quando me despedi de você... mas, inevitavelmente, eu iria me encontrar com você e voltar, sempre e sempre, esperando que se repetissem a leveza e a entrega do primeiro encontro... mas isso parecia irrecuperável... não, você não era o Gary Cooper, nem nenhum daqueles galãs gentis do tempo da minha mãe... não, você não iria para a legião estrangeira, nem para a China, nem para nenhum lugar distante... eu teria que te ver todos os dias e, dia a dia, me entregar à tua maldição porque o meu lado escuro, essa parte maldita de mim, há tanto tempo adormecida, já tinha sido despertada e reconhecia em você o sujeito da minha perdição".

(Teatro Completo - Maria Adelaide Amaral, peça: De braços abertos, p. 191-192, Ed. Global)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

foi então que percebi

- Foi então que percebi que amar...
- Não tem remédio? – antecipa-se Gustavo, completando a frase de Luísa.
- Não... – ri, triste. – Não estou citando o Caio Fernando Abreu. A frase é minha: foi então que percebi que amar é perder a dignidade. - encosta a cabeça no ombro do amigo e suspira, durante o intervalo do filme antigo que assistem na TV, na sala branca dela.
- Ah, Luísa – faz um leve afago nos cabelos dela – Qual é o problema de descer do salto uma vez? Pronto: desceu e já subiu. És tão exigente com você mesma. Deveria exigir mais dos outros também. Nada de aceitar restos e migalhas.
- Você acredita que eu exijo pouco e ainda assim... Enfim, imagine só se pedisse demais...”

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

domingo, 21 de novembro de 2010

“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também. Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar.” Caio Fernando de Abreu

encerrar ciclos.

“Enquanto não encerramos um capítulo, não podemos partir para o próximo. Por isso é tão importante deixar certas coisas irem embora, soltar, desprender-se. As pessoas precisam entender que ninguém está jogando com cartas marcadas, às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.”

Fernando Pessoa.

sábado, 13 de novembro de 2010

Tentaram me fazer acreditar que o amor não existe e que sonhos estão fora de moda. cavaram um buraco bem fundo e tentaram enterrar todos os meus desejos, um a um, como fizeram com os deles. mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar caminhos. em construir castelos sem pensar nos ventos. em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. a manter meu buquê de sorrisos no rostos, sem perder a vontade de antes. porque aprendi com a dona chica, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. dá sempre pra tirar um coelho da cartola. e lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cega, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. eu sei que vou. insisto na caminhada. o que não dá é pra ficar parado. se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. e refaço. colo. pinto e bordo. porque a força de dentro é maior. maior que todo mal que existe no mundo. maior que todos os ventos contrários. é maior porque é do bem. e nisso, sim, acredito até o fim. (caio fernando abreu)

domingo, 7 de novembro de 2010

" - Engraçado, eu nunca havia acreditado muito em breves encontros que mudam uma vida - divaga Luísa.
- Para mudar uma vida, tem que ter encontro. E eles começam pequenos, porque o começo é assim, é começo, nem meio nem fim, mas já é a ponta da linha que se arrasta - diz Bê".


(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mesmo que não o diga, você sempre sabe do que estou falando. Porque a gente sempre sabe.

"Porque você sabe, você sabe do que eu estou falando. Mesmo que não o diga, você sempre sabe do que eu estou falando. Porque a gente sabe. Porque há um elo invisível que nos une. Como uma música, aquela música que tocava aquele dia, lembra? Quando passávamos por aquele lugar e você olhou para mim e disse e olhou e riu e passou os dedos pelo meu rosto. Naquele exato momento, a música que tocava e nos acompanhava, os nossos risos, os nossos gestos, a música que ficara impregnada na memória junto àquele gesto, àquele amor, lembra? Porque depois, depois, ainda que o tempo passe e que eu passe e que você passe, ainda que, depois, cada vez que a música por acaso e qualquer lugar, uma festa, um filme, uma estação de trem, a música e tudo aquilo que ficou impregnado. Lembra?"

(Flores Azuis, Carola Saavedra, p. 60, Ed. Companhia das Letras)

domingo, 31 de outubro de 2010

Sempre acaba voltando

"(...) Quando pensava em parar, o telefone tocou. Então uma voz que eu não ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falou meu nome, uma voz quente repetiu que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que queria voltar, pediu, para irmos às ilhas gregas como tínhamos combinado aquela noite. Se podia voltar, insistiu, para sermos felizes juntos. Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim, e aquela voz repetiu e repetia que me queria desta vez ainda mais, de um jeito melhor e para sempre agora".

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

E o que passou, calou/ E o que virá, dirá

"- Como é bom, Luísa... - Stan murmura de olhos fechados, com a cabeça deitada no colo dela. Luísa sorri enquanto acarinha seus cabelos.
- Sim... - Pára subitamente, como quando tem uma ideia. Ajeita-se melhor no seu sofá branco. - Então vamos combinar uma coisa?
- Hmmmmmm? - pergunta ele, sem abrir os olhos.
- Sem grandes angústias dessa vez? Vamos tentar? Quer dizer, vais viajar, é fim de ano, não devemos nos ver tão cedo, creio eu. Você é a saudade que eu gosto de ter... - Inclina-se e o beija levemente, no pescoço.
Stanley ri, mordaz.
- Claro, Bonitinha, é tão simples. Minha Annie Hall de repente virou Pollyanna. Onde queres que eu assine?".

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

sábado, 23 de outubro de 2010

Dor de amor

Outro dia me perguntaram como se cura dor de amor. Ah, gente, não sei. Realmente não sei. Me desculpem. Se existisse fórmula seria fácil. Mas não tem. E a única coisa que a gente não quer saber é de fórmulas quando o coração está em pedaços. Não adianta alguém falar "vai passar" porque a única resposta que vem nessas horas é uma pergunta: QUANDO? E ninguém sabe o tamanho do tempo e a gente acha que o mundo acabou, que o amor é marketing, enxerga qualidades onde a pessoa (aquela ingrata!) não possui e se vê num questionamento interior que não tem fim (e muito menos respostas): por quê? onde errei? E outras que nem preciso enumerar porque são sempre as mesmas. Só muda o objeto do amor e a intensidade do sentimento. Você pode ter conhecido a pessoa há uma semana mas tem certeza que é o amor da sua vida, a razão de tudo, a tampa da panela. Ah, então tá. E as amigas te consolam, a maquiagem borra e todo mundo come chocolate junto, enquanto a frase que mais odiamos ecoa no ar "se o sujeito não te quer é melhor você ficar sem ele". Ai, hora do choro aumentar! Pra amenizar, alguém diz que a atual do cara é uma sonsa. Han? Como assim? Você vai dizer: antes tivesse me trocado por alguém melhor do que eu! Estou certa? Pois é. E você sofre. Faz drama. Drama, não, dramalhão. Afinal você ama aquele filho-da-mãe de um figa que deixou seu orgulho ferido e sua auto-estima no chão. E a gente esquece os defeitos dele, esquece que ele tem manias estranhas e esquece também que, no fundo, não via futuro pra vocês dois. Verdade? Não, nessas horas nada é verdade. Sofrer por amor cega, dá uma super inspiração e deixa nossas mães preucupadas, essa é a unica verdade. Eu já tomeio pés-na-bunda consideráveis e acho que se a Jeniffer Aniston pode, que sou eu pra fugir da regra. Já me disseram NÃO e nem por isso sou menos inteligente, menos legal, menos louca, menos linda, menos tudo, menos nada. A única coisa que tenho certeza é que eu NÃO ERA a pessoa certa pra aquele cara. Pelo menos naquele momento. Olha que simples. E sem aquela teoria furada de que o moço tem medo, algum trauma de infância e signo complicado. Quando a gente quer de verdade - meninas, acordem! - a gente vai até o inferno, desfaz casamentos, paga pra ver, apela para a baranguice e canta "Baby, come back" debaixo da janela. Porque o amor é brega. E disso ninguém escapa. Então, vamos aproveitar nosso minuto de lucidez (enquanto não caímos na teia do amor de novo) e apreder de uma vez por todas: não é pra gente se achar um lixo quando o amor acaba. Não é pra gente imaginar que a atual do seu ex é perfeita (acredite: elas nunca são). E definitivamente a gente não vai amar uma pessoa que não ama a gente. E ponto.

Fernanda Mello.

Eterno

"Você não existe. Eu não existo.
Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa.
Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata.
Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo.
E porque nos inventamos um ao outro, porque éramos tudo o que precisávamos, para continuar vivendo.
E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino.
Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado.
Então e assim, somos presente, passado e futuro.
Tempo infinito num só, esse é o eterno."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Imprevisível

“(...) Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar.
(...) Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você.
(...) Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal.
Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer. É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade”.

(Crônica "Imprevisível", in: O Amor Esquece de Começar, Carpinejar)

domingo, 17 de outubro de 2010

Lírica, Trágica e Cómica

"Jerusa dizia que as paixões tem três fases: lírica, trágica e cómica. A lírica define-se pela lucidez e pelo encantamento.
- a chamada fase das borboletas, entende? Quando você tem borboletas voando dentro do estômago.
(...) A fase trágica, continua Jerusa, é a da concentração obsessiva no ser amado, também conhecida como período do terramoto, quer porque a cidade inteira pode cair sem darmos conta disso, quer porque a mínima decepção é um terramoto; a fase cómica seria a do desmoronamento final.
- Como uma pintura cubista. O amado se desfigura diante de nossos olhos, se transforma numa composição dissonante. E aí você não tem nem como chorar. Então o nosso riso é um uivo, enquanto rolam dentro de nós pedras de gelo.
Nas paixões brutais essas três fases podem se suceder, num atropelo, em apenas um dia.

Jerusa caída à porta de um bar na noite de Lisboa, esgotadas todas as fases.
- Porque é que estou bem mais perto de você do que você de mim?

- Como é que você pode ser tão meu, e não entender isso?

- Não se preocupe meu bem, estou seguindo as regras do AA (Apaixonados Anônimos): um dia atrás do outro. Devagarzinho".

(Os íntimos, Inês Pedrosa, Ed. Alfaguara, p. 189-190)

sábado, 16 de outubro de 2010

Que seja doce se vier


"- Não acho uma decisão boa, nem ruim, Camille. É uma escolha. Que já conheces o roteiro. Também vejo que a decisão é, um pouco, tomada pelo fato de que pensas que nenhum homem a espera no seu caminho. Você me disse ontem ao telefone isso. Sempre pensei assim. Começo a reformular a ideia. De apenas estar só, sem um alguém a me esperar, ou me salvar de algo. E que seja doce o que aconteça, se vier - Luísa franze a testa.
- Eu me sinto uma fraude no gueto dos transbordantes. Vão barrar minha entrada, rasgar minha carteirinha - Camille ri.
- Não és uma fraude. Só não pense que sua escolha vai te fazer transbordar menos, doce ilusão.
- Hmmmm.
- Sabes que eu a amo e quero que fiques bem. Com o João, José, Paulo, Marcelo, Zé das Couves, sozinha. Como for.
- Eu sei. Aprendi contigo que amor não se agradece, mas você não sabe o quanto é essencial na minha vida. Vamos colocar mais prosa em nossas vidas. Objetivo do momento, pode ser?
- E menos poesia? Vou tentar..."

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Fio por fio.

"Você só esvazia o drama falando sobre ele. O trabalho de luto consiste também em falar sem parar sobre o assunto, até esvaziá-lo. Quando se perde a pessoa amada, é preciso falar sobre ela, fio por fio, para desinvestir a libido colocada nessa pessoa. Assim pode-se recuperar a libido para amar novamente. Quem não desinveste, pode estraçalhar-se depois".

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

É estúpido - e humano também

“- Bonitinha, como estás? – Stan ao telefone, com voz animada.
- Stan! – ela sorri e larga o livro que estava lendo – Bem, e você? Como foi o congresso em, no... Onde era mesmo? – tenta recordar-se, em vão.
- Espanha. Estou aqui ainda, no aeroporto. Foi bom. Muitas menininhas vieram falar comigo ao final da palestra. Dou atenção, pergunto o nome delas e elas dormem felizes – dá uma risada sarcástica.
- Sei, você não tem paciência com menininhas, de qualquer modo – Luísa fala, com certo descaso – Aliás, você me liga uma e meia da manhã para dizer isto?
- E você fica puta ao ouvir. Mas vai negar. Vai Luísa, nega – provoca-a rindo – Liguei porque senti saudades.
- Eu já tive vinte anos, sei como é – ri – Não fico mais. Há tempos não me permito sentir ciúmes de você. É estúpido.
- Não é não. É humano”.

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Não há raivoso burro

Não há raivoso burro - Carpinejar


"(...) - O que sinto? Não sei o que sinto, estou pensando agora no que sinto e não estou gostando nem um pouco.

(...) - Ai me achega uma preguiça do que não vivi.

(...) Para destruir, montamos e desmontamos o dicionário com afinco, puxamos as piores fragilidades para sangrar. Criamos até neologismos. No momento da briga, ninguém segura o verbo. Não há raivoso burro. Não há raivoso com língua presa. Não há raivoso gago. Um Padre Antonio Vieira acorda na acusação apontando os dedos ao destino.
No momento da paz, o verbo é travado. Parece que não precisamos fazer mais nada, a não ser recorrer às exclamações. Observamos nossa namorada e nos tranquilizamos com "bonita", "linda", "maravilhosa", "incrível", "fabulosa". Ela vai se tornando igual às outras. Não criamos gentilezas novas, não nos esforçamos para a homenagem. Não duvidamos do que sopramos para fora.
Se ela derruba os livros no chão, apontaremos que ela é atrapalhada. Por que não dizer que ela transborda?".

(Crônica: Preguiçoso no elogio - de: Mulher Perdigueira, Carpinejar, Ed. Bertrand Brasil, p. 101-102)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Primavera (in)contida.

“Um dia banal, uma noite comum, uma segunda-feira qualquer. Luísa chega ao prédio onde mora pensando em coisas cotidianas: a tese, que vestido usar na festa de amanhã à noite, o que jantar, se vai correr ou não no calçadão... Muitas ideias sem grande importância, ao mesmo tempo. Pega a chave do apartamento na bolsa e chama o elevador. Lembra-se de olhar a caixa de correspondência. No meio de propagandas, contas e catálogos, um envelope pequeno. Remetente: Lúcio. O coração quase pára. Respira fundo, sempre pensou que pudesse ter um ataque fulminante de amor. Não agora. O elevador demora uma eternidade. A carta pulsa na mão. A taquicardia aumenta. A impaciência também. Só vou abrir dentro de casa, pensou, como se tivesse algum receio do conteúdo. Ela odiava outorgar esse poder a ele, mas tinha a consciência de que seus humores podiam ser grandemente alterados com o que estivesse dentro do envelope. E ainda era segunda para partir-se em muitos pedaços. Cansava-se tanto apenas em ser. Esses extremos: a euforia suprema ou o desânimo abafado, isso a exauria.
Abre a porta da cozinha colorida, deixa a bolsa e as correspondências sem importância sobre a bancada e pega um copo de água gelada. Bebe de um só gole, alterando o hábito: Luísa bebe devagar, come devagar. Todo o resto se passa rápido.
Senta ao redor da pequena mesa, olha o envelope. Não quer rasgá-lo e pega uma tesoura rosa na gaveta. Corta com cuidado no cantinho e retira a carta. A caligrafia sinuosa de Lúcio. A caligrafia bela de Lúcio. Leu de um só fôlego.

***
Luísa,
Tenho um estrondo de primaveras incontidas.

Sou minha abnegação e um pecado convertido em prazer.

Sou suas pequenas e múltiplas feridas, que não saram, não cicatrizam, que se infeccionam até se converterem num manto de sujeira habitado por vidas ignoradas e rastejantes na esperança de luz.

Ainda sim, te busco, te escrevo.
Pois sei que tem muito amor escondido entre os mesmos dedos que seguram essa adaga fria. Que te trago para dança e danço contigo em passos de conta gotas.

E você não quer e mais tarde quer sempre mais. Mesmo que seja patético, mesmo que seja sublime.

Te destroço a carne, e em cada coisa que te digo, coloco um pássaro cego se chocando contra a janela. Sou obstinado em preencher as palavras com cheiros e viscosidades de lesmas. Os dias, às vezes, são amanhecidos em mim.

Ao fim sobra o espanto de que nossos corações já tão doídos insistam nessa perigosa aventura de se entregar mais uma vez e outra e outra e quantas forem necessárias para que encontrem um porto definitivo ou qualquer coisa que se assemelha àquelas histórias de pessoas felizes, meio Paulette Goddard e Carlitos que caminham sem fantasmas, sem labirintos.
Só te peço que da próxima vez que a gente se ver, por favor, não se esqueça de trazer seu chapéu coco e tua queda feita de plumas.

Te mato no abismo de mim e te amo no horizonte em que me perco,

Lúcio
***

Suspirou e respirou fundo. Um sorriso brotou, e ali ficou. Encostou a cabeça na parede. Depois dos pratos quebrados, o espanto de insistir como Paulette Goddard e Carlitos, nessa estrada sem fim. Num horizonte onde amores são sempre possíveis, tem muito amor. Sim”.

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Felicidade, sempre clandestina

“E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.”

(Felicidade Clandestina, Clarice Lispector, p. 17)

domingo, 12 de setembro de 2010

Seu coração é frio como gelo e me atrai...


"Te respondo, desta vez sem rodeios, sem repetições, da forma simples e sem grandes escândalos como acontecem as coisas mais espantosas, as coisas importantes: escrevo para que você me leia. Simples assim. Para que você me leia e volte, para que você me leia e pense que há algo surpreendentemente belo em mim, algo que você não viu, algo que passou por nós despercebido. Então, para ser mais clara, é possível?: para que você me leia e ame".

(Flores Azuis, Carola Saavedra, p. 42, Ed. Companhia das Letras)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Essas coisas bobas que me fazem suspirar, eu penso...

"- E então Lúcio me dizia para ficar feliz, Camille, que eu engolisse o choro, já que os encontros precisam ser celebrados. Sim, a chegada dele trouxe-me uma felicidade absurda. E eu que pensei que não tivesse talento para a felicidade.
- Não tens é talento para a sarjeta, sua boba - sorri Camille, doce.
- Talvez eu não seja muito boa em celebrar. De choro, eu entendo. E de cheiros. Depois que ele se foi, naquela noite, eu passei dias farejando meus vestidos curtos de verão, tentando resgatar vestígios do perfume dele. Hoje, enquanto passava rímel nos cílios, antes de vir te encontrar aqui no café, eu olhava para o meu estojo de maquiagem e pensava: como essa necessaire foi feliz, enquanto esteve ao lado do vidro de perfume dele.
Essas coisas bobas que me fazem suspirar, eu penso...
Camille apenas sorri.
- Vezenquando, eu me sinto tão patética, Camille. Eu compraria o perfume dele, se soubesse o nome. Evidentemente, cada perfume tem um cheiro diferente na pele de cada pessoa. E não seria a mesma coisa...
- O amor é patético, Luísa".

(Cadernos de Luísa, Vanessa Souza Moraes)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

talvez por isso

"Num deserto de almas também desertas, uma alma reconhece de imediato a outra".

(Caio F.)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Não posso ser feliz, longe de quem eu sempre quis.

Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirando
Observar você sorrir enquanto está dormindo
Enquanto você está longe e sonhando
Eu poderia passar minha vida nessa doce rendição
Eu poderia continuar perdido neste momento para sempre
Todo momento que eu passo com você
É um momento que eu valorizo...

segunda-feira, 26 de julho de 2010


'O que importa na vida é estar junto de quem se gosta.
Isso é a maior verdade do mundo.'

[Clarice Lispector]

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Grandes amores


(...) Os grandes amores são assim mesmo, eles nos dão o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade são apenas nossos, ninguém copia, ninguém leva, ninguém divide..."

Tati Bernardi.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O que quer uma mulher


Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança,
então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um
namorado de olhos verdes e casará com ele, vivendo feliz para sempre.
A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações.
Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de
Walt Disney.
Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar
um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas,
nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing,
engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não
anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam
com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer
em nos levar para jantar. São príncipes à sua maneira, e nós,
cinderelas improvisadas, dizemos sim! sim! sim! diante do altar; mas,
lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será
preenchida.
Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso
pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que
ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José
Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas.
Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num
saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de
embarcar.
O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo"
virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre
casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação
telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se
xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa
paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a
mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou prepar o jantar para você
às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo." E batem o telefone
possessos.
Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas.
Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos
abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam
meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são
heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a
maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada
magirus alcançasse o nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é
alguma coisa.
Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma
mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam
quarto em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens
aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados,
corajosos, batalhadores.
Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o
que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela,
suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é. .........
Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente
amada o suficiente.

Martha Medeiros

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O que se faz do que se faz.

"Não importa o que os outros fazem da gente, mas o que a gente faz do que os outros fazem da gente".

(Sartre)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

o que dizer?


que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? (Caio F. Abreu)

terça-feira, 13 de julho de 2010

O acaso.

"Palavras não descrevem os olhos, as bocas, os braços e abraços, nem a alegria até então desconhecida, surgida de um (re) encontro. Pra quem, há dias atrás, refletia tanto as obras do acaso, hoje compreende que realmente, o acaso não passa de um simples nada, e acredita em algo bem maior que isso. Que levará à um próximo reencontro, sem sombra de dúvidas. Mas até lá, todas as músicas cantadas estarão na mente, todos os sorrisos que ainda não acreditavam no que estava acontecendo, todos os olhares que transpareciam toda a magia do momento".
(Caio F.)

domingo, 11 de julho de 2010


Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dúvidas, inconstâncias e chatices, eu sei que é daquele sorriso que minha alma precisava. Ele não faz muito pela minha angústia existencial, até por não saber. E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve. (…) Eu quero parar com tudo isso, ele é um menino que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aí. E aí eu me pergunto: pra quê? Se está tão bom, se é tão simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tão boa.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lado B


"Os homens tem sempre uma vida dupla. Eles tem sempre um lado B. É por isso que eles são sempre mais distantes da vida concreta do que as mulheres. As mulheres tem uma relação com o aqui e o agora que lhes permite lidar com uma série de situações diante das quais o homem é muito mais incapacitado porque ele tem uma presença constante do lado B. E não é só o lado B sexual, o lado B de qualquer coisa, o lado B do devaneio do que ele poderia ter sido, vir-a-ser, ou simplesmente ser. Se as mulheres soubessem o que se passa na cabeça de um homem, inclusive no momento em que ele está transando com ela, eu acho que elas levantariam da cama ultrajadas".

(Contardo Calligaris)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Duas Almas Especiais.


''- (...) por isso que eu escolhi te amar, amiga. hahaha

- Obrigada, rs. Eu nem te escolhi. Mas amo. Que coisa, né? Rs. Não resisto a lamentos de ano novo. Hahahaha

- HAHAHAHAHAHHAHAHA. Cretina! Eu não 'escolhi' te amar. Eu 'escolhi' você entrar ou não na minha vida. O amor veio porque viria, mesmo. Não tem como duas almas especiais não se reconhecerem nesse decertos de almas!''

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Rodeios


''....afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte.''


[José Saramago]

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Solidão Contente.

Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão. Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas. Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha. Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas. “Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”. Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor. Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou. Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre. A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem. A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói. Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome? A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade. Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda. Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos. Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer. Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha. Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.

terça-feira, 22 de junho de 2010

"Planos nem sempre dão certo e a gente tem que ousar e desafiar a razão: eu vivo pra sentir."

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Faça uma lista de grandes amigos. Quem você mais via há dez anos atrás, quantos você ainda vê todo dia? Quantos você já não encontra mais? Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar? Quantos amores jurados pra sempre, quantos você conseguiu preservar? Onde você ainda se reconhece na foto passada ou no espelho de agora? Hoje é do jeito que achou que seria? Quantos amigos você jogou fora? Quantos mistérios que você sondava, quantos você conseguiu entender? Quantos segredos que você guardava hoje são bobos ninguém quer saber? Quantas mentiras você condenava? Quantas você teve que cometer? Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você? Quantas canções que você não cantava hoje assobia pra sobreviver? Quantas pessoas que você amava hoje acredita que amam você?

sábado, 22 de maio de 2010

10 em 1!

Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo.

Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca na sua vida?

estou indo assistir filme, com uma unica pessoa, que são 10 ao mesmo tempo! haha
bom final de semana chuvoso, e gostosinho para namoooorar *-* pra vocês!
beeijos

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A IMPONTUALIDADE DO AMOR.

Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha. Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa? Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio. O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa. O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito. A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Amor e perseguição

As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Norman Mailer. Copiem. Decorem. Aprendam.
Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor em bares, buscamos o amor na interner, buscamos o amor na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas platéias dos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir o seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.
Amor não é medicamento. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará,e, caso o faça vai frustrar suas expectativas, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza,ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima. Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: “Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu”. Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas.
“As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Normal Mailer. Divulguem. Repitam. Convençam-se.
O amor, ao contrário do que se pensa, não tem que vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir do seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir diante de você sem máscaras e sem fantasia. É esta a condição. É pegar ou largar.
Para quem acha que isso é chantagem, arrisco sair em defesa do amor: ser feliz é uma exigência razoável e não é tarefa tão complicada. Felizes aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem. Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa.

Martha Medeiros.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Treinando Para Matar!

Ando um tanto quanto estranha ultimamente.Brincadeiras raramente me fazem rir,e muitas vezes até me irritam.Não estou mais conseguindo ser tolerante,ver que algumas coisas não devemos dar muita importância.Houve épocas,que poucos conseguiam tirar o meu sorriso de mim.Me fazer chorar era para poucos.Estou começando a me achar uma velha,uma velha que não consegue mais aceitar erros,que chora por qualquer 'a',e que acha graça só em casos extremos.Devo estar sentindo falta da minha antiga vida.Faculdade ainda me mata.Quero meus amigos e amigas de novo.Quero minhas manhãs sem fazer nada.Quero voltar a me preocupar com o final de semana,esperar ansiosamente a sexta-feira,e não morrer pensando na próxima prova.Eu espero sim a sexta feira ansiosa,mas só porque eu vou poder finalmente descansar.Ando estressada,brigando com pessoas que nem convivem comigo direito.Queria a Bruna nessas horas,pra mim bater,xingar,descontar toda a minha raiva,e no final,ela olhar pra mim e dizer: ta melhor agora? Aah,como sinto falta dela.Da companhia dela,dela toda minha.Tem dias que nem eu mesma estou me aturando,e hoje é um dia desses.Acordei desejando dormir pelo menos o dia todo.Estou triste,e nem sei o porque,talvez seja comigo mesma.Talvez eu ande exigindo das pessoas,coisas que eu deveria exigir de mim mesma.Talvez eu não admita nos outros meus próprios erros.Engraçado,né? Mas ando assim,estranha.Estranha comigo mesma,e com o mundo.Esse mundo que não tem culpa de ter uma filha,uma namorada,amiga e irmã tão complicada,cheia das manias e um humor que muda conforme a lua.
Esse texto na verdade,é só um desabafo meu.Dissem que as vezes o melhor remédio é escrever,bem,aqui estou eu,e espero mesmo que meu humor mude,e que a minha manhã termine um pouco melhor,e que a tarde eu nem lembre de tudo isso.
Enfim,TPM ainda me mata.E quem é mulher,entende muito bem.
Boa terça,e um ótiiiiimo feriado :*

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quero que esse sentimento dure para sempre!


Sabes exatamente como me aceitar,por inteira ou em pedaços.Sabes como tirar um sorriso de mim quando a minha maior vontade é chorar.Admiro essa tua insistência em tanto querer me ver bem em todas as situações,como se só a minha felicidade,somente ela,importasse pra ti.Esse teu jeito de me abraçar,como se estivesse me protegendo do mundo,e nada,NADA pudesse me atingir.
Me pergunto as vezes se realmente mereço tudo isso,se mereço tanto amor.Não que eu não seja digna disso,mas será que eu consigo te recompensar por cada risada,cada momento? Será que eu Renata,consigo te fazer tão feliz quanto tu me faz? Essas perguntas volta e meia veem,e eu te juro,não sei responder.
Sei bem o quanto deve ser complicado e um tanto difícil me compreender.Não sou fácil,e isso não é hoje.Tenho manias,um orgulho e uma teimosia que raramente me deixam.Em alguns momentos nem eu mesma consigo me aturar.Porém,apesar de tudo isso,tais sempre do meu lado,calado ou não,estais lá,me fazendo companhia,por mais que algumas vezes a única companhia não passe do teu próprio silêncio.Esse teu silêncio que as vezes me enlouquece.
Pra mim não existe pessoa mais linda,mais perfeita,mais determinada que tu.E muito menos que consiga me fazer tão feliz quanto tu me faz.Se Deus te colocou no meu caminho,algum propósito teve,e eu acredito que seja para me transformar mais em GENTE,pra cair na vida,e saber me levantar sozinha,pra que eu aprenda a me virar sozinha,para ser menos 'mimada' como tu mesmo diz.E mesmo eu não querendo admitir,com um pouco de dificuldade eu estou aprendendo isso tudo,sempre contanto com a tua ajudazinha básica de todos os dias.
Tenho tanto pra falar de ti,tanto a te agradecer,mas eu realmente não sei,não sei como.Acho que o essencial mesmo é tu saber,que eu estou aqui pra qualquer coisa sempre,que por ti sou capaz de qualquer coisa pra te ver feliz e realizado,e que nada no mundo tira de mim o que eu sinto por ti,pois é a coisa mais pura e verdadeira,acredite.

te amo por tudo que tu és,MEU MAIOR TESOURO.

domingo, 11 de abril de 2010

A tristeza permitida.

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra. Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra. A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas. “Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia. Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Enfim Sexta!


Finalmente SEXTA,não vou mais precisar me preocupar com o Comércio Exterior,pelo menos até domingo a noite.Hoje é o último dia que vou precisar pegar um ônibus as 16:45 para chegar as 18:30 na furb,esse trânsito me irrita,juro.E pra minha felicidade está friozinho,e eu vou poder ficar grudadinha no meu namorado o final de semana inteiro.Espero que o final de semana passe devagar,que o tempo fique friozinho,com bastante sol e um céu de brigadeiro lindo.Que eu descanse bastante,e aproveite ao máximo,mesmo que seja em casa,debaixo das cobertas,comendo pipoca e assistindo um filme romântico na tv.Daqui a pouco tenho que começar a me organizar para mais uma noite de muito Comércio Exterior,então,boa sexta pra todo mundo e um final de semana melhor ainda,não esquecendo de descansar,por favor!

''nem tudo o que importante é prioritário, e nem tudo o que é necessário é indispensável!''

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Grandes Mulheres

Há mulheres de todos os gêneros. Histéricas, batalhadoras, frescas, profissionais, chatas, inteligentes, gostosas, parasitas, sensacionais. Mulheres de origens diversas, de idades várias, mulheres de posses ou de grana curta. Mulheres de tudo quanto é jeito. Mas se eu fosse homem prestaria atenção apenas num quesito: se a mulher é do tipo que puxa pra cima ou se é do tipo que empurra pra baixo.
Dizem que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Meia-verdade. Ele pode ser grande estando sozinho também. Mas com uma mulher xarope ele não vai chegar a lugar algum.
Mulher que puxa pra cima é mulher que aposta nas decisões do cara, que não fica telefonando pro escritório toda hora, que tem a profissão dela, que o apóia quando ele diz que vai pedir demissão por questões éticas e que confia que vai dar tudo certo. Mulher que empurra pra baixo é a que põe minhoca na cabeça dele sobre os seus colegas, a que tem acessos de carência bem na hora que ele tem que entrar numa reunião, a que não avaliza nenhuma mudança que ele propõe, a que quer manter tudo como está. Mulher que puxa pra cima é a que dá uns toques na hora de ele se vestir, a que não perturba com questões menores, a que incentiva o marido a procurar os amigos, a que separa matérias de revista que possam interessá-lo, a que indica livros, a que faz amor com vontade. Mulher que empurra pra baixo é a que reclama do salário dele, a que não acredita que ele tenha taco pra assumir uma promoção, a que acha que viajar é despesa e não investimento, a que tem ciúmes da secretária. Mulher que puxa pra cima é a que dá conselhos e não palpite, a que acompanha nas festas e nas roubadas, a que tem bom humor. Mulher que empurra pra baixo é a que debocha dos defeitos dele em rodinhas de amigos e que não acredita que ele vá mais longe do que já foi. Se por trás de todo grande homem existe uma grande mulher, então vale o inverso também: por trás de um pequeno homem talvez exista uma mulherzinha de nada.

Martha Medeiros.